De volta ao Brasil!! - Sul do Peru ao Acre através do Lago Titicaca e ruta transoceânica

Tudo nesta vida têm porquês. Às vezes, principalmente quando estamos envolvidos com a peleia para a sobrevida na sociedade e que nos desconecta de nossa essência, não nos damos conta da seqüência dos acontecimentos e dos direcionamentos apontados pelo universo. Mas se levamos uma vida simples, desapegada de bens materiais e de buscas ilusórias, em contato profundo com a natureza e acompanhando seu livre fluir, podemos ter o privilégio de nos deparar com os mais belos encantos da vida e duvidar que algo seja mesmo por acaso. Mas nem sempre estamos preparados ou temos serenidade de aceitar ou entender isto.

Com quase um ano e cerca de 10.000km de jornada através dos mais remotos lugares da cordilheira dos Andes, por Argentina, Chile, Bolívia e Peru, escalando bolders, esportivas e grandes paredes em 23 sítios, ascendendo a grandes montanhas, e ainda e principalmente tendo uma alta autonomia para não dependência das cidades (resultando em cerca de R$3.000 de gastos no período), pude me sentir mais conectado com a Terra, seguir seu tempo e desfrutar melhor disso tudo.



Já descapitalizado saberia que o pouco dinheiro conseguido não seria suficiente para suportar mais muito tempo minha econômica vida pelas estradas. Somando-se, a saudade de minha terra, da minha gente e a necessidade de compartilhar me levou de volta ao Brasil.

Era um dia de muito calor em La Paz e depois de um mês por aí em Chuquiago Café, me sentia feliz e desprendido para partir. Uma conversa com o casal de ciclistas Nicaraguo-frances, as últimas tarefas no Café, um forte abraço de até breve aos meus queridos amigos, e derrepente, como se fosse comprar pão na esquina, me vi dropando as empinadas ruas que levavam para fora do vale da grande La Paz, arrancando aplausos ou simplesmente despertando a atenção dos pacenhos. O espírito ganhou a motivação que necessitava.

Logo estava disputando um espacinho com as lotações e as milhares de pessoas pelas ruas de El Alto, e sem perceber estava de volta a tranqüilidade do altiplano. O calor se fazia sentir, que junto anunciava a época das chuvas, levando todos os campesinos ao preparo do solo e ao plantio da batata. As noites foram de fortes temporais, mas sempre pude encontrar ou armar um bom abrigo. Beirando o lago Huinaymarcá passei pelos pequenos povoados de Batallas, Huarina, Huatajata, Cocani, Janckoamayo, e cruzando uma larga montanha estava no estreito de Tiquina, diante do tão esperado e incrível lago Titicaca.

Devido a uma manifestação popular a passagem pelo estreito estava bloqueada. O motivo é a construção de uma ponte pleiteada pelo governo, que acabaria com uma das principais fontes de trabalho na localidade. Nessas horas nada melhor que chamar atenção com a grande bici e ter jogo de cintura para convencer o barqueiro da comunidade a te levar com ela no minúsculo e um dos poucos barcos do dia. A água foi entrando dentro do barco e as dezenas de pessoas empilhadas foram ficando assustadas, mas antes que jogassem a negrita no lago a embarcação ancorou do outro lado.

Passado o susto, estava subindo uma encosta que me levou a 4.000m snm, 400 metros acima do lago, através de uma estreita crista donde se podia vê-lo dos dois lados. Em decorrência do protesto várias grandes árvores foram derrubadas sobre a estrada, deixando a estrada livre para mim somente. Um bivaque enluarado e estava descendo dentro da turística Copacabana. Custei para conseguir combustível para o fogareiro, mas poucas horas depois estava me despedindo da Bolívia. Um país que tem muito a mostrar.

Entrar no Peru foi uma mistura de receio com ansiosidade, e já de início me deparei com um povo pouco receptivo e um tanto preconceituoso com o estrangeiro. A paz das estradas ficou para trás, e por alguns dias estive tensamente pedalando em meio aos pouco habilidosos motoristas peruanos. Passei Yunguyo, Pomata, Juli, Pilcuyo, Illave, Acora, Plataria, Chucuito, Puno. Durante todos os dias ao redor do lago Titicaca pude encontrar grupos de cicloviajeiros, em média dois por dia de todas as partes do mundo.

Nunca havia durante estes 11 meses encontrado tantas pessoas viajando em bici, a maioria com promissoras carreiras já cansadas do ritmo de vida imposto pela sociedade. Apesar de estarem desfrutando a fundo da vida, pude notar como já havia antes, que o objetivo de todos é bem diferente do meu; são os chamados cicloturistas. Com pequenas cargas, um farto cartão de crédito, a idéia de rodar muitos quilômetros ao dia ao longo de carreteiras asfaltadas e conhecer as zonas mais turísticas, muitas vezes perdem de conhecer a essência do país, os lugares mais encantadores e aproveitar o potencial da bicicleta de para ela pode te levar.

Agora sem escapatória se iniciaram as chuvas, me mantendo molhado e com frio durante ininterruptos 15 dias. Quando tudo começava a secar ela despejava novamente. Passando Juliaca saí da zona turística, enfim podendo conhecer o verdadeiro povo peruano, com seu sorriso dourado e amável e de grande prestatividade.

Alcancei a ruta transoceânica, projeto do governo Lula que aqui no Peru sofreu pouca resistência contra os danos advindos de uma grande estrada asfaltada. Já esta em fase final de construção, na qual nos canteiros de obras quase só se escuta o português dos engenheiros brasileiros. Ainda faltam os trechos de montanha mais duros de serem vencidos e as centenas de pontes, o que ainda torna o percurso quase intransitável. Mas é incrível acreditar na magnitude desta construção.

Depois de Juliaca, segui em direção a cordilheira, passando pelas poblações de Azangáro, Progresso, Recreo e Catuyo. O passo de 4.900m snm foi vencido num dia de tempestade de neve ou de muita chuva. Agora era só desfrutar da grande descida que estava por vir até Mazuco, 4.600 m abaixo. Por sorte um grande bolder me abrigou logo após de Macusani. Seguiram-se horas de descenço até que o perfeito asfalto desse lugar as embarradas estradas ou que fosse necessário cruzar os rios com água no joelho.

As áridas montanhas foram ganhando cada vez mais vida e tons de verde. A diversidade de plantas foi crescendo e árvores de porte cada vez maior foram aparecendo. A umidade da floresta tropical foi começando a fazer o corpo transpirar como nunca. O pequeno rio San Gaban foi demonstrando o enorme vale que esculpiu. Difícil crer que justo aí existe uma estrada. Passei pelos pequenos povoados de Ollachea, Chacaneque, Carmem, Lechemayo em meio a gigantescas montanhas amazônicas.

A dita planície por debaixo esconde um acidentado terreno com subidas e descidas intermináveis. O calor é intenso e incomoda; que saudade do frio!
Atoleiro após atoleiro vou deixando os poucos veículos presos para trás, mas em muitos momentos sou barrado pelas montanhas que desabam sobre as estradas. Os povoados perdidos em meio à floresta não são muito atraentes, com as pessoas dos dentes de oro e seus olhares intimidadores. Muito em decorrência da economia da região, baseada no plantio da coca e muitas vezes no seu refino.

Logo deixo a região montanhosa da Amazônia e entro em uma região por enquanto menos remota e mais civilizada. São alguns dias lutando com o duro clima para passar Mazuco, Chaspi, Puerto Carlos, La Encanada, Los Hormigas, Imambari até chegar Puerto Maldonado, e da aí até a fronteira com o Brasil e Assis Brasil. Ao longo do caminho cada vez menos se pode ver o que foi a floresta amazônica, que cada vez mais se distancia da estrada. Quando o espaço não é ocupado pelo boi ou está abandonado, grandes acampamentos de garimpo de ouro iniciam povoações.

Com um sorriso largo cruzei a fronteira e estava de volta a minha casa. Não antes de um longo mal entendido com a polícia federal que achou que o leite em pó que eu carregava era cocaína. De sacanagem retiveram todos meus alimentos.

A situação florestal aqui no Brasil parece ser ainda pior que no abandonado Peru, e raramente se vê uma árvore perto da estrada. Mas ao que tudo indica o Acre é um estado florestal e com rigor a cada ano vem reduzindo o índice de desmatamento e melhorando sua situação ambiental.

Eram por volta das 22 horas quando cheguei a cidade de Rio Branco na casa de meus queridos e velhos amigos do sul Strapa, Ju e Paulão. Foram merecidos dias de descanso, de muita alegria e de comemorações do fim desta primeira etapa da Ciclo escalada Andina. Uma recompensa que valeu por cada gota de suor derramado.

Por tudo que se passou pelo caminho é de olhar para trás e agradecer imensamente pelo privilégio de ter podido vivenciar tudo de uma foram tão perfeita. Também agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente acreditaram no sucesso desta empreitada e estavam lá dando seu apoio. São muitos nomes a citar, mas especialmente a Território e Alto Estilo que desde o primeiro momento foram parceiros.

A próxima etapa já tem data de inicio para janeiro com destino as grandes paredes do sul do planeta, e novamente contará com o apoio da Território e Alto Estilo.

Pela regiao Paceña

Depois de um bom tempo desfrutando da paz e harmonia dos montes e de desoladas regioes do altiplano e cordilheira ocidental boliviana, estava na hora de chegar a cidade e a civilizaçao. Nao que fosse um forte desejo comparado a beleza de sentir no dia a dia o ritmo da vida e de toda sua essência proporcionados pelas ausência do descompasso causado da sociedade humana. Mas sim por uma causa um pouco oculta, resultado desta dependência social de nossa espécie.
Mas as cidades, principalmente as grandes, sempre tem muitas coisas interessantes para mostrar e ensinar justamente sobre esta toda relaçao social que temos. É onde se pode e se obriga a participar da relaçao comercial e adquirir todos os bens de consumo que se necessita, entre alimentos, reparos para bicicleta, energia elétrica. É onde se se pode conhecer pessoas das mais variadas origens, com as mais diferentes idéias e costumes. Tambénm onde se pode aprender muito sobre o país, sua gente, sua cultura, política, história. Também onde se pode encontrar pessoas de afinidade e irmaos de alma.
E a grande e incrível cidade de La Paz se mostrou um poço de riqueza nestes e em muitos outros aspectos.
Para começar a cidade ocupa uma posiçao geográfica de deixar qualquer um de boca aberta. Cheguei pelo sul da cidade vindo do altiplano a cerca de 4.200m de altitude, vendo de longe grandes montanhas brancas se tornando cada vez maiores. De repente se inicia uma aglomaraçao urbana extremamante caótica, inacreditável para um sul americano do sul. Milhares de buzinas ao mesmo tempo, gente e carros e as milhares de vans de transporte se atropelando por todo lado em meio a vendedores que negociam tudo que se possa imaginar, de animais a oferendas.
Logo se cruza El Alto e se depara com dá de cara com um vale gigantesco e a cidade inteira de La Paz metida aí. Sao 600m de down hill para cair dentro da cidade a cerca de 3.600m snm. Isso se nao quiser ir para a zona sul, 600m mais abaixo. A altitude que dá pra ser vista na cara dos turistas mareados que acabam de baixar dos avioes. Se acima já era caótico, imagina quando grande parte dos que vivem lá vem para a cidade em busca de ganhar a vida. Uma boa experiência para manejar bicicleta carregada disputando um espacinho onde nem mais autos cabem.
Lutando um pouco com as ladeiras, cheguei ao ponto de encontro dos ciclistas viajeiros que por aqui passam, Chuquiago café e a casa de Cristian e Luisa. Fui recebido por eles de braços abertos e com o maior carinho e atençao, e em quando vi já tinha um lugar para dormir, tomar um banho e descansar. Justo coincidiu de ser uma fase de passagem dos cicloviajeiros de todos os cantos, com quem pude compartilhar horas de boas conversas, histórias e vivências, e aprender muito sobre muitas coisas. Sintonia de pensamentos e formas de encarar a vida, um incentivo para nunca mais deixar de viver intensamente. Austríaco, suíços, suéco, uruguaio, espanhol, estados unidenses, colombiano, franceses, alemaes, costa riquenhos, britânico, de lugares distantes e com amesma forma de pensar.
Como é importante compartilhar e o quanto isso nos alimenta. Com alguns a relaçao foi mais intensa a amizade se tornou eterna. Nao só entre os cicloviajeiros, como Pius, Magrit, Pablo, Cristobal, Camilo, Jamn, Dani, Wagner e Luara e vários outros, mas também com os amigos escaladores paceños Dani, Joaquim e Toshi, com as amáveis pessoas do café, Critian, Luisa, Marta e Huascar, com o grande Gus e Blanca que mais preocupado que eu deixou a negrita afiada, e muitas outras verdadeiras pessoas.
m cerca de 1 mês que estive pude desfrutar de uma maneira única da cidade, dos amigos, e da beleza incrível desta regiao boliviana. Quando nao estava trabalhando e me divertindo ajudando na loucura que se tornava o café nas horas de pico, tratava de pegar minha mochila com os equipos e ir escalar um pouco com os amigos no belo sítio de escalada no sul de La Paz, Aranjuez, que conta com mais de cen vias de todas as graduaçoes, algumas de ótima qualidade no exigente conglomerado.
Também pude conhecer uma regiao de beleza inigualável e estar em contato com meu ambiente de origem, a floresta tropical. Durante cinco dias fiz uma caminho com a bici carregada pouco convencional.
Subi 1.300m de desnível até cruzar a cordilheira real, descendo com um pouco de custo, muita bateçao e muito empurrar o caminho pré-colombiano Del Choro, trecking em meio as montanhas para ser feito a pé, que desce 4000m de desnível em três dias. Incrível ver como um caminho de séculos pode resistir ao tempo, incrível a engenharia dos construtores. Por sorte Negrita resistiu ao impacto desta trilha, e dando meia volta ao pé do outro lado da cordilheira real, iniciamos o caminho de volta, subindo a abandonada e encantadora ruta de la muerte, point mundial do down hill. Num total de 12 horas vencemos com muita alegria os 3.600m de desnível, um grande e duro desafio para ter certeza do poder de nossa mente. Mais 1.000m de baixada e estava no centro da conturbada La Paz novamente.
Mais uns dias de trabalho e estava saindo para a próxima investida, subir o nevado e majestoso Huayna Potosi com seus 6.088m snm. Desta vez A alema Christina quis me acompanhar e junto foi. Sem perder o prazer fiz a aproximaçao até o campo base em bici, mais de 1.100m acima do centro da cidade de La Paz, uma viagem um pouco dura mas de incrível beleza. Nos juntamos aí no fim de tarde e nevava um pouco. Mesmo com tempo mal decidimos subir ao campo alto, a 5.200m snm, e depois de um longo agradecimento por tudo que tenho recebido e um pedido de licença, em duas horas estávamos armando acampamento. Choveu e nevou durante a noite, mas às 1 hr da manha um lindo céu se abriu. Hora de se preparar, desayunar e parti pra cima para aproveitar o bom gelo. Iniciamos caminhando com a lua iluminando o glaciar, que por nao ser conhecido por nós custou a ter seu labirinto de gretas inicial ultrapassado. Logo a luz do dia apareceu e revelou um ambiente mágico. Havia um céu azul impressionate e o dia estava muito calmo. Alcançamos o cume por volta das 10 hrs a manha, junto com uma nevasca. Tratamos de desescalar rápido a crista de rocha e gelo final e depois de saltar as dezenas de gretas do caminho, em 3 hrs estávamos de volta ao acampamento alto. Acabamos ficando por aí digerindo a sensaçao incrível de ter subido esta montanha única, para no outro dia baixar de volta a La Paz, sempre em companhia da fiel escudeira Negrita.
Depois desta empreitada e de ter realizado e alimentado de uma forma muito linda os desejos do espírito, estava na hora se botar o pé na estrada de novo sentido norte. O desejo de conhecer e realizar lindas escaladas graníticas na cordilheira Quimsa Cruz e na base de Huayna Potosi ficou para a próxima.
Com a especial atençao de Gus, mecânico de Gravity e grande amigo, mais preocupado com Negrita do que eu, pudemos deixá-la impacável como poucas vezes esteve durante esta viagem.
Alimentado das mais puras energias e muito realizado com tudo que a estadia na na incrível Bolívia e em La Paz proporciou, chegou a hora de conhecer algo novo, um novo país, uma nova história. Peru aí vamos nós!

Ciclo escalada chega ao norte da cordilheira boliviana


A cicloescalada vem avançando continuamente e com alegria através desta cadeia de montanhas que se demonstra cada vez mais impressionante. Desde janeiro de 2009 foram pedalados cerca de 8.000 km pelas mais remotas rutas da Argentina, Chile e Bolívia, que levaram as mais belas e selvagens paisagens deste planeta, onde até o momento em 20 sítios, foi possível desfrutar de muitas distintas e incríveis escaladas. (A linha vermelha no mapa ao lado ilustra o trajeto percorrido e os pontos verdes os sítios de escalada visitados.)

Viver diariamente em harmonia com a mais pura natureza estando no mais íntimo contato, e podendo apreciar as suas mais diversas expressoes, é um previlégio que alimenta a alma e nos ensina um pouco sobre quem somos e onde estamos, e mostra verdadeiros sentidos da vida.

A forma de simplicidade e autônomia com que vêm sendo conduzida esta experiência a torna mais dura, mas também enriquece e aprofunda esta vivência, que se passa a dar muito mais com a natureza do que com a sociedade. A foto abaixo ilustra a logística empregada e a grande quantidade de viveres necessários.



A cicloescalada agora está de descanso em La Paz, adquirindo energias para os próximos passos, entre visitas aos sítios de escaladas da regiao e descobertas de um novo país, o grande Peru. Hasta la próxima!

Oruro - lugar de escaladas e grandes montanhas

Enfim cheguei a uma regiao mais urbanizada da Bolívia, em Carahuara de Carangas, onde foi possível conseguir uma variedade de alimentos um pouco maior para me manter no bom sítio de escalada da zona. Muito melhor do que poder se alimentar um pouco melhor foi encontrar bons novos amigos, os franceses Lionel e Véronique, que recém começavam uma viagem com o mesmo objetivo da minha, conhecer lugares remotos, escalar nos sítios de escalada e subir montanhas nevadas, e como nao poderia deixar de ser carregar uma carga tremenda.
Nos juntamos no povoado e por vários dias compartimos felizes momentos. Em pouco estávamos sacando as coisas dos alforges e começando a escalar. Durante dois dias estivémos motivados a full, escalando cerca de 10 lindas rutas na incrível rocha vulcânica, entre 5º e 7c+. Infelizmente os militares que atuam na regiao usam a área para treinamento, pichando, sujando e tirando parte do encanto deste belo sítio. Durante os dias que estivémos aí a chuva esteve presente e coloriu o céu, mas nao nos impediu de estar colgados, e por sorte tivemos disponível o que foi uma das melhores moradas desses tempos, uma grande e confortável gruta.
Logo partimos todos juntos a Chacunpulco, mais um sítio de escalada de bolders a cerca de 40 km de Curahuara de Carangas em direçao ao Chile. Aí um mar de rochas vulcânicas esculpidas pelo tempo forma um paraíso para escaladores. Durante dois dias, a 4.200m snm, fizemos muita força provando projetos e tentando novas linhas.
De cabeça feita parti para o próximo passo junto com meus novos amigos, tentar a ascençao dos grandes avuelos, os nevados Sajama, a maior montanha da Bolívia com 6.542m snm, e do Parinacota com seus 6.340m snm, usando a bici para aproximaçao.
Acabei me desencontrando do casal e fui solo ao Sajama chegando em três horas ao campo base. Me sentindo bem, decidi fazer um ataque daí direto ao cume, sem passar uma noite no campo alto para aclimataçao. A ascençao através das íngrimes vertentes arenosas foi dura, mas logo estava acima dos 6.000m, onde começou a parte técnica da escalada. Depois de passar uma parede de rochas podres, cheguei ao gelo e as esperadas penitentes, que formavam degrais ou cascatas de gelo de cerca de 2 metros de altura. Passando uma a uma fui avançando até o momento em que se abriram formando profundas e perigosas gretas. Já estando tarde e se tratando de terreno perigoso, juntando com minha pouca experiência neste ambiente, decidi sabiamente baixar a 200 metros do cume. Em 2 horas estava novamente no campo base a salvo vendo os últimos raios de sol do dia banhando esta montanha impressionante, agradecendo pela profunda interaçao que me proporcinou.
Baixei do campo base e fui relaxar nas águas termais abeixo de um céu forrado de estrelas. Já descansado e reunido com meus amigos, partimos para o próximo desafio, a aproximaçao e ascençao do nevado e negro Parinacota.
Nos custou vencer os areiais até o campo base, e decidimos seguir a pé. Ao final do dia já esgotados, armamos nosso campo base a cerca 4.800m snm. As três da madrugada iluminados pela lua minguante, iniciamos a caminhar cruzando ao escuro alguns vales. Quando chegamos ao campo alto e o sol começou a nos fornecer calor, Véronique começou a se sentir mal e tiveram que descer. Novamente segui em solitário, vencendo os zig-zags e os areiais intermináveis e as penitentes, e as 13 hrs da tarde, já esgotado e sentindo dores de cabeça, atingi a cratera e o cume deste grande vulcao. Realizado era hora de retornar o longo caminho, e às 8 hrs da noite, completamente esgotado depois de 17 horas de atividade, estava de volta onde havia deixado a bicicleta, onde em meio ao forte vento, com sede, fome e feliz, em segundos estava metido no saco dormindo.
Uma experiência surreal que alimentou a alma e o espírito. O que restou foi agradecer aos grandes avuelos por terem permitido uma interaçao tao profunda.
Realizado era hora de enfrentar o próximo desafio, muito mais duro que estar na natureza selvagem, encarar La Paz, a louca capital da Bolívia.

Travessia do encantador Altiplano Boliviano

Enfim cruzei a frontera da tao esperada Bolívia, país distinto, onde certamente tudo mudaria. Depois de já mais de 2 meses acima dos 3600m snm, com exceçao de Sao Pedro do Atacama, retornei aos cerca de 4000m depois de cruzar o passo de Hito Cajon.
Adentrei por uma das regioes mais desérticas e selvagens deste país, onde logo fui recebido cordialmente pelo guarda-parque da Reserva de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Além de aproveitar para descansar um pouco na sede da Reserva, daí foi possível fazer um ataque a montanha que vem acompanhando meu caminho durante muito tempo, o grande vulcao Lincancahur. Em 12 horas de atividade em solitário, me aproximando em bici e encarando a inexplorada crista sul, recebi o permisso de cheguar ao seu cume de 5.930 m snm, e desfrutar de uma das paisagens mais incríveis de toda viagem.
Segui adiante ao norte, encarando o que se revelou em uma das partes mais duras da cicloescalada, empurrando a bici através de intermináveis areiais à até 4900m snm e lutando com nevascas atípicas, além de uma logística de água para vários dias. Mas fui recompensado pelas mais incríveis paisagens, das lagunas altiplânicas com suas cores que variam do branco ao verde e vermelho repletas de flamingos, das montanhas laranjadas, do salar do Chalviri e suas águas termais, dos geisers em atividade, das formaçoes geológicas incríveis. Infelizmente a Reserva nao conta com eficiente sistema de fiscalizaçao, necessário para adequar os prejudiciais safaris turísticos dos 4X4.
Depois de muitos dias lutando com as dificuldades impostas pelo meio, enfim cheguei em mais uma zona de escalada, o incrível Valle de las Rocas, um mar de rochas vulcânicas que se extende por mais de 10 km e forma um paraíso de para escalada de bolders. Já sem mantimentos nao pude escalar muito e me dirigi enfim para a civilizaçao boliviana.
Foi aí que comecei a me deparar com o que é a Bolívia e o boliviano. País muito distinto dos outros visitados até entao, que resiste ou nao acompanha o capitalismo e o avançado processo de globalizaçao que ja toma conta do mundo. Pouco existem produtos industrializados, mas dos alimentos produzidos na zona cálida, quase nada chega ao altiplano, que se alimentam somente a base do que produzem, raramente algo além de quinoa, papas e carne de llama, muito adaptados aí. Mas por trás de um mercado inocente, uma rica cultura foi cada vez mais se revelando.
Foi um incrível contraste conhecer uma cultura que resiste até hoje a colonizaçao, seja cultivando de sua forma suas sementes e seus alimentos que le deram vitalidade desde o princípio, seja falando seus idiomas originais como Quechua e Aymaraia.
É lindo de ver as mulheres paradas como duendes em meio ao altiplano, com suas roupas coloridas, seus tradicionais chapeuzinhos de onde saem longas tranças, e quase sempre com um pedaço de pele de llama produzindo fios. Esboçam sempre um sorriso e falam meia duzia de palavras em seus idiomas; o que resta é sorrir de novo.
Segui por pequenos poblitos raramente com mais de 500 habitantes, de gente muito amavel e com as piores estradas do mundo, San Augustin, San Juan, San Martim, Chuvica. Cruzei o impressinante salar do Uyuni, onde pela terceira vez me perdi em meio ao mar branco e tive que fazer mais de 100 km para corrigir a rota. Por aqui nao existem placas indicativas e muitas vezes as coordenadas que consigo no gps estao erradas. Aprendi, seguir a intuicao é melhor que nada. Muitas vezes o caminho tem somente uma leve marca antiga de camionete ou um rastro de bici, e quando pensa que esta no caminho certo, este divide em 3 ou 4. Outro mundo, que ainda está distante do ocidente.
Depois do Uyuni e de dormir na linda isla incahuasi, dormindo em grutas ou nos campos abaixo dos céus mais estrelados que já vi, cheguei a Tohua e dando a volta num lindo vulcao cheguei a Salinas de Garci Mendoza. De aí a cidade fantasma de Concepçao de Belén às beras do salar de Ollague, depois Chipaya, Escara, Huahacalla, Opoqueri, Pomata e a amável Turco, e depois de um lindo caminho repleto de lindas escaladas de bolders, cheguei a Curahuara de Carangas, próximo sítio de escalada a se conhecer. Nesta cidade se consegui perceber pela primeira vez os traços da cultura ocidental, que acaba com tudo o que é de origem dos povos antigos que aqui viviam.
Bolívia é um país especial, onde além de suas incríveis belezas naturais é possível refletir para onde a sociedade está se encaminhando.

Cruzo ao atacama chileno - a escalar!

Se iniciou uma nova fase da ciclo escalada, onde retornei ao modo antigo, seguindo o caminho fisicamente em solitário. A motivaçao que havia se ido retornou, e foi fundamental para enfrentar vários dias seguidos de fortes ventos e completa solidao ao cruzar o passo sico em direçao a Chile, onde atingi mais de 4800m snm.
Depois de 5 dias sem nenhuma presença humana, enfim cheguei a esperada Quebrada Nascimento, próxima a Socaire. Por sorte pude encontrar e compartilhar bons dias com os novos amigos de Santiago, entre escaladas e uma ida a Reserva Nacional de los Flamencos e suas lagunas altiplânicas Miñique e Miscanti.
Meus parceiros se foram, e por mais dois dias pude aproveitar um pouco do grande potencial da quebrada como zona de escalada, entre bolders e escaladas em solitário.
Chegou o momento de voltar a civilizaçao, e aproveitando o já desconhecido asfalto pude chegar rapidamente a turística Sao Pedro do Atacama. Aí meu destino se cruzou com o da família dos queridos amigos Marcelo, Yuen e do pequeno Noah. Juntos fomos escalar na quebrada de Toconao, boas rutas desportivas e pequenas e perigosas fissuras.
Antes de me despedir dos meus novos irmaos, fui conhecer os belos lugares turísticos da regiao, a piedra de la coca e o valle de la luna. Abastecido de boas energias, segui carretera adiante sentido passo jama, e depois de subir quase 2000 m de altitude guardado pelo belo vulcao Lincancahur, entrei na Bolívia em Hito Cajon. Momento a tempo esperado, novo país, novas experiências.

Norte da Argentina pela ruta mais alta das américas até o vale de Tuggzle

Foi nesta etapa da ciclo escalada onde nos deparamos com grandes desafios impostos pela vida. Partimos da regiao dos mais ricos vinhos argentinos, Cafayate, e pela desértica ruta 40 rumamos em direçao ao que todos dizem ser o passo em carretera mais alto das américas.
Através do Valle Calchaqui, onde o isolamento preserva a autêntica e colorida cultura antiga, encontramos paisagens incríveis esculpidas pelo drástico clima. Passamos pelos povoados de Cachi e La Poma, a partir de onde começamos uma batalha física, mental e espiritual de alguns dias até atingir a plenitude, no passo de Abra Acay, onde diferente do que diz o cartel, chegamos a 4.960 m snm.
Iluminados pelo lindo entardecer baixamos até Santo Antônio de Los Cobres, e de aí um bate volta até Salta, a compartilhar filosofias com nossos novos amigos artesanos.
De volta a Los Cobres, desgastados e sofrendo com a altitude, fomos ao próximo destino de escalada, o remoto vale formado pelo vulcao Tuggzle. As lavas vulcânicas hoje se transformaram em um paraíso de bolders, e os tremores abriram lindas fissuras, onde durante alguns dias pudemos desfrutar de desoxigenadas escaladas, revezadas com banhos nas termas e tratamento do furúnculo que quase atravessou a perna de Turco. Também aos pés do grande vulcao aproveitamos a oferendar nossa grande mae e agradecer por tudo.
Um pouco desmotivados seguimos à diante em direçao ao Chile, através de um atalho sobre areiais a mais de 4.800m snm e que derrepente se terminou. Sem caminho e com muito custo conseguimos descer ao fundo do vale.
Foi neste momento que o meu destino se separou do do meu hermano, que seguiu sua intuiçao e foi ao encontro de sua felicidade. Foram mais de 2 meses e milhares de quilômetros de parceria, compartilhando sensaçoes únicas e que nos ensinou muito sobre o espírito humano. Gracias hermanito e seguimos na conexao.


Ciclo escalada atinge mais de 6000 km percorridos e 14 sitios de escalada visitados


Sentindo o coracao cada vez bater mais forte, a alma fazer os pelos se arrepiarem e o espirito se tornar cada vaz mais leve, a Cicloescalada pela Cordilheira dos Andes caminha com alegria e energia total rumo ao norte.
Ja foram percorridos mais de 6000 km em pura bicicleta pelos mais impressionantes e duros caminhos cordilheranos, sendo visitados 14 sitios de escalada em rocha.
Vivendo entre vales e montanhas e diante dos mais drasticos fatores ambientais, encontramos a harmonia da natureza e desfrutamos das mais belas paisagens do nosso planeta, desde a Patagonia sulina, passando por oito provincias Argentinas e 7 Regioes chilenas. A linha vermelha no mapa ao lado demonstra o largo caminho recorrido, atraves dos interminaveis sobes e desces, como os da vida.
Estivemos em alguns dos mais incriveis sitios de escalada tradicional e desportiva do mundo, realizando as mais lindas acenssoes e nos conectando profundamente com os motivos que realizam e apaixonam a alma humana.

As belezas da Pre cordilheira atraves das provincias de San Juan, Catamarca, Tucumam e Salta

Lindas e perfeitas escaladas pela Regiao de San Juan

Vamos Escalaaaaar - Regiao de Santiago, Chile e Los Arenales, Argentina

Travessia de 5 regiones de Chile hasta Santiago - Inicio de uma nova fase

Neuquem, Region de Los Lagos e das Araucarias, Agulhas Frey e Valle Cochamo

CICLO-ESCALADA ANDINA

Depois de percorrido toda a extensao do rio bio bio inserido na cordilheira dos andes, passando pelo vulcao Callaqui, e depois de alguns dias de muita chuva e muita lama, estava enfim no próximo setor de escalada, em Antuco. O mal clima impediu a realizacao do que pretendia fezer na regiao, entre escalar em alguns sitios e subir algumas montanhas nevadas.


Segui para o próximo destino, o Valle do rio Maule e dos Condores. Novamente o clima atingiu severamente a regiao, impedindo a aproximacao devida a grande quantidade de neve acumulada. Mudei um pouco a programacao, passei pelo Parque Nacional das Palmas de Cocalan e me dirigi para Santiago, onde também me fui encontrar Turco, que apartir de entao passaria a me acompanhar na empreitada. De Santiago fomos conhecer os sitios de escalada mais clássicos.

Primeiro fomos escalar os negativos conglomerados de Las Chilcas, em meio a uma bela paisagem desértica. O potencial deste lugar é imenso, e escalamos durante 2 dias 16 fortes e belas vias esportivas, entre 6° a 8° grau.





De Las Chilcas nos dirigimos para o Cajon do rio Maipo, lugar de extrema beleza em meio a cordilheira. No cerro Sao Gabriel realizamos a escalada da uma bela via tradicional, a Colombianos (7b), onde desfrutamos das perfeitas fissuras graníticas.



Depois de 1 dia realizando esta escalada retornamos para Santiago e enfim nos dirigimos para o norte e para a Argentina, depois de ja estar 3 meses no Chile e ter cruzado 9 províncias.

Antes de nos dirigirmos as altitudes do passo, passamos pela Cuesta Chacabulco, onde estivemos um dia escalando 8 lindas vias no basalto da regiao, entre 6° a 9° grau.
Ja nos aclimatando com as subidas, cruzamos a cuesta e finalmente comecamos a subir a cordilheira para cruza-la para o outro lado.




Tardamos dois dias para subir os intermináveis caracóis e atingir cerca de 3800 m snm
no passo Cristo Redentor. Novamente estava na Argentina e uma longa e preciosa baixada nos fez avancar rápido, mesmo com a neve e baixa temperatura.







Chegamos a Uspallata e novamente tivemos que cruzar a cordilheira a quase 3000 m de altitude, baixado pelo outro lado pelo interminável caracol das 400 curvas de Vilavicenzio.


Finalmente chegamos a Mendoza, onde encontramos grande novos amigos e super buena onda. Daí partimos para um dos maiores objetivos da viajem, escalar em Los Arenales, e nesta época, em invernal. Subimos ao refugio a 2800 mm snm em meio a nevascas, e enfim nos abrigamos num lugar magnifico, em meio a altas montanhas nevadas a agulhas de granito.





Durante 5 dias, com temperaturas baixissimas e vento forte pudemos desfrutar das mais incríveis escaladas, nas agulhas El Fraile, Campanille, Cohete Lunar e Pared de Mitria. Realizados voltamos a Mandoza.











Felizes e Fortes, partimos agora para o Norte, a enfrentar mais um pouco de cordilheira e a conhecer os sitios de escaladas na regiao de San Juan.