Travessia do encantador Altiplano Boliviano

Enfim cruzei a frontera da tao esperada Bolívia, país distinto, onde certamente tudo mudaria. Depois de já mais de 2 meses acima dos 3600m snm, com exceçao de Sao Pedro do Atacama, retornei aos cerca de 4000m depois de cruzar o passo de Hito Cajon.
Adentrei por uma das regioes mais desérticas e selvagens deste país, onde logo fui recebido cordialmente pelo guarda-parque da Reserva de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Além de aproveitar para descansar um pouco na sede da Reserva, daí foi possível fazer um ataque a montanha que vem acompanhando meu caminho durante muito tempo, o grande vulcao Lincancahur. Em 12 horas de atividade em solitário, me aproximando em bici e encarando a inexplorada crista sul, recebi o permisso de cheguar ao seu cume de 5.930 m snm, e desfrutar de uma das paisagens mais incríveis de toda viagem.
Segui adiante ao norte, encarando o que se revelou em uma das partes mais duras da cicloescalada, empurrando a bici através de intermináveis areiais à até 4900m snm e lutando com nevascas atípicas, além de uma logística de água para vários dias. Mas fui recompensado pelas mais incríveis paisagens, das lagunas altiplânicas com suas cores que variam do branco ao verde e vermelho repletas de flamingos, das montanhas laranjadas, do salar do Chalviri e suas águas termais, dos geisers em atividade, das formaçoes geológicas incríveis. Infelizmente a Reserva nao conta com eficiente sistema de fiscalizaçao, necessário para adequar os prejudiciais safaris turísticos dos 4X4.
Depois de muitos dias lutando com as dificuldades impostas pelo meio, enfim cheguei em mais uma zona de escalada, o incrível Valle de las Rocas, um mar de rochas vulcânicas que se extende por mais de 10 km e forma um paraíso de para escalada de bolders. Já sem mantimentos nao pude escalar muito e me dirigi enfim para a civilizaçao boliviana.
Foi aí que comecei a me deparar com o que é a Bolívia e o boliviano. País muito distinto dos outros visitados até entao, que resiste ou nao acompanha o capitalismo e o avançado processo de globalizaçao que ja toma conta do mundo. Pouco existem produtos industrializados, mas dos alimentos produzidos na zona cálida, quase nada chega ao altiplano, que se alimentam somente a base do que produzem, raramente algo além de quinoa, papas e carne de llama, muito adaptados aí. Mas por trás de um mercado inocente, uma rica cultura foi cada vez mais se revelando.
Foi um incrível contraste conhecer uma cultura que resiste até hoje a colonizaçao, seja cultivando de sua forma suas sementes e seus alimentos que le deram vitalidade desde o princípio, seja falando seus idiomas originais como Quechua e Aymaraia.
É lindo de ver as mulheres paradas como duendes em meio ao altiplano, com suas roupas coloridas, seus tradicionais chapeuzinhos de onde saem longas tranças, e quase sempre com um pedaço de pele de llama produzindo fios. Esboçam sempre um sorriso e falam meia duzia de palavras em seus idiomas; o que resta é sorrir de novo.
Segui por pequenos poblitos raramente com mais de 500 habitantes, de gente muito amavel e com as piores estradas do mundo, San Augustin, San Juan, San Martim, Chuvica. Cruzei o impressinante salar do Uyuni, onde pela terceira vez me perdi em meio ao mar branco e tive que fazer mais de 100 km para corrigir a rota. Por aqui nao existem placas indicativas e muitas vezes as coordenadas que consigo no gps estao erradas. Aprendi, seguir a intuicao é melhor que nada. Muitas vezes o caminho tem somente uma leve marca antiga de camionete ou um rastro de bici, e quando pensa que esta no caminho certo, este divide em 3 ou 4. Outro mundo, que ainda está distante do ocidente.
Depois do Uyuni e de dormir na linda isla incahuasi, dormindo em grutas ou nos campos abaixo dos céus mais estrelados que já vi, cheguei a Tohua e dando a volta num lindo vulcao cheguei a Salinas de Garci Mendoza. De aí a cidade fantasma de Concepçao de Belén às beras do salar de Ollague, depois Chipaya, Escara, Huahacalla, Opoqueri, Pomata e a amável Turco, e depois de um lindo caminho repleto de lindas escaladas de bolders, cheguei a Curahuara de Carangas, próximo sítio de escalada a se conhecer. Nesta cidade se consegui perceber pela primeira vez os traços da cultura ocidental, que acaba com tudo o que é de origem dos povos antigos que aqui viviam.
Bolívia é um país especial, onde além de suas incríveis belezas naturais é possível refletir para onde a sociedade está se encaminhando.

5 comentários:

  1. Lindas fotos, se cuida e fica com Deus

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  2. Gde beijo... Boa viagem!!!

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  3. Lindas fotos Ruddy!!!
    Boa sorte pelo caminho.

    Abraços, Alessandra

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  4. Alucinante e inspirador! Se essa trip desperta algo na galera que comparte os minimos momentos que podem ser expressos em fotos e textos, imagino o quanto intenso seja viver-la!
    Vai na fé! Boa sorte cara!

    Valter

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  5. Rudy, estava procurando por informações sobre os caminhos do Salar de Uyuni e achei o teu blog. Quero ir ao Salar daqui a um ano por Calama, Ollagüe, Chiguana, San Juan, San Martim, Chuvica e sair por Salinas de Garci Mendoza, de moto. Muito louca a tua viagem, virei seguidor. As melhores dicas vêm do pessoal das bicicletas. Abraço e tudo de bom na estrada.

    Sílvio Sodré

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