Oruro - lugar de escaladas e grandes montanhas

Enfim cheguei a uma regiao mais urbanizada da Bolívia, em Carahuara de Carangas, onde foi possível conseguir uma variedade de alimentos um pouco maior para me manter no bom sítio de escalada da zona. Muito melhor do que poder se alimentar um pouco melhor foi encontrar bons novos amigos, os franceses Lionel e Véronique, que recém começavam uma viagem com o mesmo objetivo da minha, conhecer lugares remotos, escalar nos sítios de escalada e subir montanhas nevadas, e como nao poderia deixar de ser carregar uma carga tremenda.
Nos juntamos no povoado e por vários dias compartimos felizes momentos. Em pouco estávamos sacando as coisas dos alforges e começando a escalar. Durante dois dias estivémos motivados a full, escalando cerca de 10 lindas rutas na incrível rocha vulcânica, entre 5º e 7c+. Infelizmente os militares que atuam na regiao usam a área para treinamento, pichando, sujando e tirando parte do encanto deste belo sítio. Durante os dias que estivémos aí a chuva esteve presente e coloriu o céu, mas nao nos impediu de estar colgados, e por sorte tivemos disponível o que foi uma das melhores moradas desses tempos, uma grande e confortável gruta.
Logo partimos todos juntos a Chacunpulco, mais um sítio de escalada de bolders a cerca de 40 km de Curahuara de Carangas em direçao ao Chile. Aí um mar de rochas vulcânicas esculpidas pelo tempo forma um paraíso para escaladores. Durante dois dias, a 4.200m snm, fizemos muita força provando projetos e tentando novas linhas.
De cabeça feita parti para o próximo passo junto com meus novos amigos, tentar a ascençao dos grandes avuelos, os nevados Sajama, a maior montanha da Bolívia com 6.542m snm, e do Parinacota com seus 6.340m snm, usando a bici para aproximaçao.
Acabei me desencontrando do casal e fui solo ao Sajama chegando em três horas ao campo base. Me sentindo bem, decidi fazer um ataque daí direto ao cume, sem passar uma noite no campo alto para aclimataçao. A ascençao através das íngrimes vertentes arenosas foi dura, mas logo estava acima dos 6.000m, onde começou a parte técnica da escalada. Depois de passar uma parede de rochas podres, cheguei ao gelo e as esperadas penitentes, que formavam degrais ou cascatas de gelo de cerca de 2 metros de altura. Passando uma a uma fui avançando até o momento em que se abriram formando profundas e perigosas gretas. Já estando tarde e se tratando de terreno perigoso, juntando com minha pouca experiência neste ambiente, decidi sabiamente baixar a 200 metros do cume. Em 2 horas estava novamente no campo base a salvo vendo os últimos raios de sol do dia banhando esta montanha impressionante, agradecendo pela profunda interaçao que me proporcinou.
Baixei do campo base e fui relaxar nas águas termais abeixo de um céu forrado de estrelas. Já descansado e reunido com meus amigos, partimos para o próximo desafio, a aproximaçao e ascençao do nevado e negro Parinacota.
Nos custou vencer os areiais até o campo base, e decidimos seguir a pé. Ao final do dia já esgotados, armamos nosso campo base a cerca 4.800m snm. As três da madrugada iluminados pela lua minguante, iniciamos a caminhar cruzando ao escuro alguns vales. Quando chegamos ao campo alto e o sol começou a nos fornecer calor, Véronique começou a se sentir mal e tiveram que descer. Novamente segui em solitário, vencendo os zig-zags e os areiais intermináveis e as penitentes, e as 13 hrs da tarde, já esgotado e sentindo dores de cabeça, atingi a cratera e o cume deste grande vulcao. Realizado era hora de retornar o longo caminho, e às 8 hrs da noite, completamente esgotado depois de 17 horas de atividade, estava de volta onde havia deixado a bicicleta, onde em meio ao forte vento, com sede, fome e feliz, em segundos estava metido no saco dormindo.
Uma experiência surreal que alimentou a alma e o espírito. O que restou foi agradecer aos grandes avuelos por terem permitido uma interaçao tao profunda.
Realizado era hora de enfrentar o próximo desafio, muito mais duro que estar na natureza selvagem, encarar La Paz, a louca capital da Bolívia.

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